domingo, 13 de dezembro de 2009

Laya Project

Porquê?

Reflecte, pensa que a tua vida não passa de meros minutos que por vezes julgas inúteis. Agora, pensa na tua vida sem esses inúteis minutos, fazia sentido? Não, jamais fará. Imagens que te marcam, musicas, momentos, um rosto pesado, um olhar sincero, um sorriso contagiante, um gesto involuntário, conversas banais, tudo isto ao qual não dás importância faz parte da tua vida.
O olhar, algo simples, retracto directo de quem te rodeia, olhares tão profundos e tristes, olhares perdidos, olhares que te perdes a tentar descodificar, olhares únicos, mas calmos, profundos, mas doces, de cores indefinidas, que contém eles? Que intenções têm? O que escondem? Transmitem sensações controversas, desde dor, alegria, amor, saudade, desejo, desilusão, etc. … Sentimentos que se misturam e se desligam. Porque?

E o olhar daqueles que viram as suas vidas destruídas? Daqueles que não têm hipóteses de nada a não ser sobreviver à força? Daqueles que passam fome olhando para os restos mortais que jazem empilhados em destroços? Das crianças órfãs abandonadas ao entulho? Daqueles que tudo perderam? Que contam? Ninguém consegue definir o olhar.

E porquê tantos porquês? Porquê a necessidade de descobrir esses mesmos significados? Porque não viver feliz, ignorante, julgando esses mesmos olhares como apenas mais uns, apenas reflexos inerentes a qualquer um de nós? Porque têm que ser tão especiais? Tão vazios mas simultaneamente tão cheios? Marcados por uma brutalidade que jamais conheceremos? E porquê tanta vontade ou mesmo desespero em desvendar o que lhes vai na alma? Ou será que esta também acabou arrastada com tudo? Que lhes resta?

E que me resta a mim senão este egoísmo, senão esta curiosidade e vontade de os conhecer, de lhes tocar, tentar perceber mais de perto o que lhes vai na mente? Conhecer aquela riqueza sobrevivente à destruição que transportam no peito? Sinto-me contagiada por este egocentrismo tão atroz. Sinto-me contagiada pelas suas histórias, pelas suas vidas, se assim ainda lhes posso chamar ou considerar.


Patrícia Patão

Affraid

É raro, principalmente em mim, mas embora tudo apontasse para um dia fora do comum, diferente, memorável, senti medo.
Não apenas receio ou angústia. Medo.
Aquele sentimento estranho, capaz de questionar existencialismos, capaz de mexer com algo mais profundo, por vezes tão profundo que julgávamos desconhecer...Medo de voltar ao desconhecido, de perder a ilusão, talvez, em que acreditava, ou pelo menos queria, do que já tinha conseguido construir...

preciso de algo, não percebi bem o quê ou se mesmo de alguma coisa, mas preciso.
I really need

sábado, 12 de dezembro de 2009

Laya Project

Hipnose


Inicio esta viagem com uma imagem de peles enrugadas, turbantes de várias cores e sorrisos contagiantes. Entro em hipnose. Deixo-me levar pela melodia criada por aquelas vozes tão características, repletas de vida, repletas de história, que transbordam cultura. Sangue, ocre, açafrão e henna, cores que me guiam por esta viagem com o meu inconsciente, envolta em panos suaves e tradições. Acordo, um pequeno timbre, pouco perceptível, obriga-me a colar os olhos nas imagens que vão passando à minha frente e “beber” toda aquela alegria que transbordam enquanto tocam. Terminou, e aquele momento desapareceu, substituído por pés descalços caminhando entre pó e vestígios de uma civilização. Preciso de mais, de desvendar um pouco mais, de conhecer e viver o que julgava não ser possível. Monges, agora são monges, violino e vozes peculiares levando a um outro nível o conceito que temos de música. Não apenas lixo descartável que nos é vendido nos rádios. Mais, muito mais. Vidas contadas por aquelas vozes marcadas de sofrimento cobertas de panos crus cor-de-laranja e cabeças rapadas. Uma pausa, e iniciam tambores e flautas. Peles mais escuras praticamente descobertas seguem então naturalmente, como algo que não lhes foi ensinado, talvez ancestral, apenas intrínseco que acompanham com movimentos. Não estranhos, não peculiares, apenas diferentes, uma diferença contagiante, uma diferença soberba.

Destruição, somente o que resta, se é que resta, da vida daqueles povos. Traição cruel. A morte invade aqueles gigantes desertos de entulho e só deixa desconhecimento, incertezas, dúvidas, questões. Não poupa hierarquias, raças ou idades, limita-se a varrer aquele interminável território. Nasce, no que se tornou infértil, apenas dor, sofrimento e desespero estampados nas caras e olhares dos que sobreviveram. Naqueles que ainda valorizavam e protegiam o que de mais simples existe.

O mundo ocidental, dito “desenvolvido” marcado pelos avanços tecnológicos e luxos característicos das suas culturas assistiu impável ao sucedido, comodamente sentado num sofá em frente a uma televisão. Quase desinteressado, uma vez que o comodismo, mais que enraizado, se transformou num dogma. Unicamente preocupado com os seus fúteis dias rotineiros esperando que governos e organizações se lembrassem de tomar medidas, de dar apoio, poluindo e contribuindo cada vez mais para este género de tragédias. No entanto, despreocupado e desresponsabilizado.

Quero a hipnose, preciso da hipnose.

Só é digno da vida e da liberdade quem todos os dias se esforça por as conquistar. (Goethe)

sábado, 5 de dezembro de 2009

Nada

Hoje sinto-me um nada,
como se tudo o que ainda consegue fazer sentido se desvanecesse. Senti que não passava apenas de mais um que contribuia para as trivialidades do teu dia-a-dia, apenas mais alguma coisa que decora o teu mundo tão perfeito.
Um apenas que nunca evoluirá e passará disso, de um somente, de algo esquecível e banal.
Apercebi-me desta insignificância, apercebi-me que no fundo tudo se resumia a nada...

domingo, 29 de novembro de 2009

Família

Uma família que fui obrigado a criar, não de 2 ou 3 elementos mas de vários, tantos que não é possível contar pelos dedos e que ia crescendo com o passar do tempo. Elemendos que transformavam um jantar em mais que uma simples refeição. Que transformavam um dia em mais que uma rotina. Que me obrigavam a viver intensamente cada dia, cada minuto. Que me deram tudo e não esperaram nada em troca. Colegas com quem partilhei tudo, desde banalidades a algo mais extraordinário e complexo: momentos, histórias que do nada terminaram. Não deveriam, mas terminaram.
Agora tudo se repete. Começar, novamente, uma vida do nada, abandonado ao desconhecido, onde nada passa de estranho, mas que se vai tornando, a pouco e pouco, na minha mais recente família. Não menos importante, apenas diferente...saudades

sábado, 28 de novembro de 2009

Walking

Acordo, como, lavo dentes e corro porque estou atrasado.
Caminho frenética e automaticamente em direcção a qualquer coisa que perceberei quando o cérebro acordar, rodeado pelo nevoeiro matinal que não deixa ver o sol e dificulta a odisseia de conseguir manter os olhos abertos. Caminho, mais uma vez, rodeado por pessoas entulhadas em estradas ouvindo atenciosamente mais um programa qualquer de rádio, tentando,ridiculamente, entrar em contacto com o mundo isoladas num monte de lata tecnológica ambulante, nos seus dias dejá vu, ignorando tudo o resto. Acendo um cigarro e continuo a percorrer o trilho que tende a não terminar. Olho agora para a Natureza, ali, à minha frente, que as estradas, indústria e homem ainda não conseguiram apagar. Uma tela de tons verde, vigorosos, brindada com vida. E ali paro, sento-me, acordo, e apercebo-me que sou apenas mais um que vive uma rotina previamente planeada, sem espaço para mais nada que não inclua a decadência diária. Apercebo-me que sou apenas mais um ser igual a todos aqueles por quem me cruzei. Apercebo-me que perdi com o tempo a identidade. Sou apenas ninguém...

Cansaço

Cansado de estupidez,
Cansaço este profundo,
Cansado de mesquinhez,
Cansado do mundo.

Farto da gente,
E de toda a sociedade,
Preciso de um lugar diferente,
Quero uma nova realidade.

Fugir um dia,
Para qualquer lugar distante,
Procurar uma utopia,
E viver radiante

Childhood...

Era apenas mais uma música, um ícone da piroseira descartável impingida meticulosamente à mais alta escala pelos Estados Unidos na década de 90, mas ainda assim uma música. Mais que isso, até, motor de nostalgias de tempos de ingenuidade e plena felicidade quase constante. Deliciosas recordações de uma época em que uma mera brincadeira num intervalo de 10 minutos eram aventuras inacreditáveis.

Quotidianos passados que se transformaram na utopia do presente, envolta em fumo de cigarro e cheiro a café quando a azáfama, correria e stress diários ainda deixam respirar

Puzzle

Encontro-me rodeado de gente, pessoas que vão tecendo o meu dia-a-dia com pequenos momentos, barulho e gargalhadas...peças de um puzzle que não passam de uma realidade ilusória. Peças indispensáveis a uma sobrevivência quase decadente que se transformaram na minha própria religião

Loneliness

Deambulam em mim
pequenos fragmentos
algures perdidos. Enfim,
estúpidos sentimentos.

Angustiante desilusão
do que fui ou sou,
pútrida solidão
que em mim imperou.