sábado, 6 de fevereiro de 2010

Procissão

Acordei com uma voz alta e mecânica de altifalante acompanhada por ruídos de multidão. Abri os olhos e pela janela do quarto uma santa passava rodeada de flores e brindes religiosos. Levantei-me e ali estava, perante a minha indiferente janela de quarto, a vila inteira, uma concentração de gente assustadoramente enorme. Uma fila interminável de acólitos, padre, banda, beatas, filhos, netos, maridos, vizinhos, ou apenas transeuntes desfilando vagarosamente em toiletes escolhidas a dedo, murmurando rezas que meia dúzia de papelinhos lhes ditava. Ao longe os sinos tocavam com um fulgor raramente visto, foguetes explodiam no céu e o cheiro a cera de velas invadia o ar. A procissão em honra à santa da terra tinha começado. O dia pelo qual todos tinham esperado durante o ano inteiro tinha chegado. À frente as velhotas em delírio cantando e rezando em uníssono enquanto vão avaliando quem está presente, o que levam vestido, se transportam velinha, pano, terço, andor ou qualquer outra bugiganga. Ao meio o padre rezando e apelando à devoção ao biblô gigante enterrado em flores e coberto de vestes que o seguia. Por fim, a banda tocando e os homens no final da corrente humana que se vão dispersando pelos cafés que aparecem...

Toco no vidro e sinto-me realmente afastado deste espetáculo. E sorrio...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

É triste

É triste que apenas com a ausência nos apercebamos do que outrora tivéramos. É triste que apenas com a ausência tenhamos coragem de valorizar aquilo que nos rodeia. É triste