quarta-feira, 24 de novembro de 2010

(Per)corri até à exaustão, cada esquina, entrada e viela que surgiam e terminavam do nada. Num complexo labirinto, se é que o chega a ser, feito de uma crua e fria monotonia inquebrável. Ou melhor, julgava eu…

terça-feira, 23 de novembro de 2010

just...

não sei!
nem sequer sei se chegarei a saber.
ou tampouco sei se quero saber.
não sei!


vou-me contentando, com esta frágil ignorância, não sabendo nada, de forma a que quando souber, saiba que pelo menos era feliz enquanto ignorante!

domingo, 14 de novembro de 2010

Carrossel

Acompanhando uma caixa de música, imagino-me num carrossel. Em voltas incontáveis, para cima e para baixo, rodeado por crianças que nunca vi mas que, talvez pela inocência carimbada no rosto de cada uma, já vou conhecendo. Partilham o mesmo sorriso, o mesmo fascínio que a tenda gigante tecnolócica apetrechada de cavalinhos inspira em mim. E ali vamos nós, sentados, observando quem ali está, subindo e descendo num ritmo matematicamente calculado, abraçando a vida a cada segundo.

E a cada tilintar da música sou criança novamente...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Glass

Nada mais somos que um pedaço frio e transparente de vidro ao nascer. Que um fragmento onde não existe lugar para engodos nem ilusões. Puramente transparentes. Unicamente pequenos volumes sem impacto ocupando o seu quê de espaço. Encarando o mundo numa imaculada pureza incolor corrompida por uma grotesca, constante e injusta agressividade. Esculpidos por riscos e coleccionando sujidade, destruindo gradualmente a poética limpidez da nossa formação. Meramente condenados a uma frágil e ténue coesão transformável, em segundos, em estilhaços. Demasiados estilhaços, perdidos aqui e ali. Milimétricos, aguçados, cruéis e quase invisíveis estilhaços soltos ao acaso.

Estilhaços coláveis...peça a peça, a fita-cola tecendo uma nova superfície como se de um puzzle se tratasse. Uma nova abordagem, uma nova versão. Uma versão apenas nossa. Sem revivalismos genéticos. Uma forma com a sua própria plasticidade e dimensão. Com as aplicações que preferir-mos. Apenas conduzido a ímpetos de imaginação. Rechear tudo de cor e texturas. Criar pinturas ou formar esculturas. Sem imposições nem formalidades. Pura rendição à arte...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Choque

Queria choques. Desesperava por descargas desmedidas de energia que acordassem o que há algum tempo morreu. Que ressuscitassem qualquer coisa. Não precisava de ser nada em concreto, somente alguns fragmentos que servissem de mote para o início de uma pesquisa pelos trilhos do passado. Redescobrir em tons dejá vu o que ficou suspenso em partículas soltas de memória. Não o tive. Queria, quase em súplica, mas não o tive.
Algures, não sei propriamente quando, entre cafés, fumo de cigarros e conversas triviais incentivadas por cérebros já petreficados pelo cansaço, vislumbrei por instantes o futuro... não o típico futuro idílico dos demais, mas um futuro à minha imagem. Pouco claro, pouco previsível, nada planeado, apenas um futuro. E embrenhado entre passados e futuros, entre o tentar restaurar o que foi e esbarrar com o que será, entre a definição de um percurso e a dimensão do desconhecido de outro, dei por mim desligado do presente. Aquele atroz e desumano presente. Que nos suga a alma e nos dá em forma de trocado, sufoco.
Curiosamente, não era por um baque seco e eléctrico que ansiava, mas exactamente pelo oposto. Tempo. Tempo para respirar, para pestanejar, para sentir vida a enrugar-se nas mãos e a cavar-se nos olhos. O já quase desconhecido tempo e a fossilizada Vida...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Pieces

Sinto-te a esgravatar a porta e a tentar olhar intensa e desnecessariamente para o interior. Quase sinto o teu respirar quente, húmido e ofegante.

Irracionalmente aproximo-me. Toco levemente, do interior, no mesmo bloco de madeira já gasta que nos separa. Espalmo agora a cara contra a porta tentando absorver o máximo de informação. Oiço folhas a balancearem com o vento e talvez pássaros chilreando ao longe. Mordo o lábio e sinto o sangue a correr. tremo e tu reages.
O tilintar da campainha rasga esta ténue comunicação ligando-me brutalmente à realidade. Ajeito, a medo, a voz e num ar mecanicamente jovial pergunto: Quem és tu? O tempo limita-se a ficar suspenso no ar. Impaciente por esperas e cordialidades, abro a porta e sou encandeado por um tiro de luz. A pouco e pouco vai-se pintando uma pequena imagem à minha frente. Primeiro uns olhos grandes e reluzentes mais próximos de mim que o que esperava. Segue-se um sorriso gigante de orelha a orelha e por fim uns finos cabelos dançando vagarosamente.

Respondes timidamente: Não sei! E limito-me a devolver-te o sorriso

Suspenso

Porque é que a felicidade é estupidamente standartizada? Porque é que tudo começa por amor, pulos em câmara lenta em searas de perder de vista e termina em montes relvados com fontes colossais, pomares ainda maiores, sol, nuvens, juventude, virgens, deuses e afins?

Porque é que não nos é permitido ter ruído, confusão, luzes ténues e fraqueza no nosso ideal? Porquê tanto receio com o abismo se é ele o que mais nos permite descobrir? Descobrir, do nada, por nós próprios, o que quizermos. sem regras ou imposições. Alimentados apenas a adrenalina e receio. Somente ar e breu por desvendar. Onde o vazio é todo nosso e as culpas de ninguém...