quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Choque

Queria choques. Desesperava por descargas desmedidas de energia que acordassem o que há algum tempo morreu. Que ressuscitassem qualquer coisa. Não precisava de ser nada em concreto, somente alguns fragmentos que servissem de mote para o início de uma pesquisa pelos trilhos do passado. Redescobrir em tons dejá vu o que ficou suspenso em partículas soltas de memória. Não o tive. Queria, quase em súplica, mas não o tive.
Algures, não sei propriamente quando, entre cafés, fumo de cigarros e conversas triviais incentivadas por cérebros já petreficados pelo cansaço, vislumbrei por instantes o futuro... não o típico futuro idílico dos demais, mas um futuro à minha imagem. Pouco claro, pouco previsível, nada planeado, apenas um futuro. E embrenhado entre passados e futuros, entre o tentar restaurar o que foi e esbarrar com o que será, entre a definição de um percurso e a dimensão do desconhecido de outro, dei por mim desligado do presente. Aquele atroz e desumano presente. Que nos suga a alma e nos dá em forma de trocado, sufoco.
Curiosamente, não era por um baque seco e eléctrico que ansiava, mas exactamente pelo oposto. Tempo. Tempo para respirar, para pestanejar, para sentir vida a enrugar-se nas mãos e a cavar-se nos olhos. O já quase desconhecido tempo e a fossilizada Vida...

1 comentário:

  1. Tentando traduzir a palavra "estúpido"...
    Multiplica-la, e categoriza-la por níveis.
    E concluir que "estúpido" é a base mais autêntica de todas as qualidades.
    De todas as razões dogmáticas.
    Vejo, assim, "estúpido" como o maior dos elogios a quem sabe mentir verdadeiramente como ninguém.

    Estúpido!
    E que no futuro,eventualmente, te possa ainda chamar exactamente o mesmo.
    *
    :)

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