sábado, 12 de dezembro de 2009

Laya Project

Hipnose


Inicio esta viagem com uma imagem de peles enrugadas, turbantes de várias cores e sorrisos contagiantes. Entro em hipnose. Deixo-me levar pela melodia criada por aquelas vozes tão características, repletas de vida, repletas de história, que transbordam cultura. Sangue, ocre, açafrão e henna, cores que me guiam por esta viagem com o meu inconsciente, envolta em panos suaves e tradições. Acordo, um pequeno timbre, pouco perceptível, obriga-me a colar os olhos nas imagens que vão passando à minha frente e “beber” toda aquela alegria que transbordam enquanto tocam. Terminou, e aquele momento desapareceu, substituído por pés descalços caminhando entre pó e vestígios de uma civilização. Preciso de mais, de desvendar um pouco mais, de conhecer e viver o que julgava não ser possível. Monges, agora são monges, violino e vozes peculiares levando a um outro nível o conceito que temos de música. Não apenas lixo descartável que nos é vendido nos rádios. Mais, muito mais. Vidas contadas por aquelas vozes marcadas de sofrimento cobertas de panos crus cor-de-laranja e cabeças rapadas. Uma pausa, e iniciam tambores e flautas. Peles mais escuras praticamente descobertas seguem então naturalmente, como algo que não lhes foi ensinado, talvez ancestral, apenas intrínseco que acompanham com movimentos. Não estranhos, não peculiares, apenas diferentes, uma diferença contagiante, uma diferença soberba.

Destruição, somente o que resta, se é que resta, da vida daqueles povos. Traição cruel. A morte invade aqueles gigantes desertos de entulho e só deixa desconhecimento, incertezas, dúvidas, questões. Não poupa hierarquias, raças ou idades, limita-se a varrer aquele interminável território. Nasce, no que se tornou infértil, apenas dor, sofrimento e desespero estampados nas caras e olhares dos que sobreviveram. Naqueles que ainda valorizavam e protegiam o que de mais simples existe.

O mundo ocidental, dito “desenvolvido” marcado pelos avanços tecnológicos e luxos característicos das suas culturas assistiu impável ao sucedido, comodamente sentado num sofá em frente a uma televisão. Quase desinteressado, uma vez que o comodismo, mais que enraizado, se transformou num dogma. Unicamente preocupado com os seus fúteis dias rotineiros esperando que governos e organizações se lembrassem de tomar medidas, de dar apoio, poluindo e contribuindo cada vez mais para este género de tragédias. No entanto, despreocupado e desresponsabilizado.

Quero a hipnose, preciso da hipnose.

Só é digno da vida e da liberdade quem todos os dias se esforça por as conquistar. (Goethe)

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