terça-feira, 5 de abril de 2011

Germaine VI

Baviera. Ali a Natureza tinha o seu próprio cunho e espaço para se impor e seduzir. O verde magnetizante encontrava-se de braços dados com a história, de castelos, monumentos e pequenos vestígios celtas, romanos e gauleses guardados entre vales e rochedos, com a metrópole ao centro que não deixava esconder o exuberante progresso da civilização. Tudo enquadrado numa especial composição que conferia uma peculiar singularidade àquela província. Viveram ali inicialmente sem acesso a invejáveis condições. Germaine encontrou alguma estabilidade em empregos entre fábricas e cafés para alugar uma casinha na periferia e Gérard, com o seu ordenado de fotógrafo, jornalista, redactor e escravo de um jornal, remodelava-a gradualmente e abastecia a dispensa. Não tinham acesso a luxos, mordomias, ou pequenas extravagâncias de tempos a tempos. Nem as queriam. Contentavam-se com passeios ao domingo entre idas ao parque ou o mercado nos subúrbios onde lembravam o camponês. Felizes.

Acordou de madrugada obrigada pela ansiedade. Sentou-se no lavatório de porcelana e fechou os olhos. Imaginava Willelm enquanto deixava deslizar a mão pela cintura. As coxas abriam-se criando caminho aos dedos que começavam, gradualmente, a ganhar algum movimento. De início suavemente, tocando ao de leve apenas nos lábios, aumentando depois o ritmo e a pressão. Encostou a cabeça à parede, onde lhe escorriam gotas de suor e onde a respiração ficava cada vez mais forte e audível. Gemia no final, sem vergonha nem preconceitos, saindo depois da casa de banho. Leve. Seguiu para a cozinha. Acendeu velas, preparou café, fez pão, panquecas, chá e tomou o pequeno-almoço. Tinham passado oito anos desde que chegara à Alemanha. Vestiu-se meticulosamente e saiu de casa. Ao chegar à estação duas horas depois, sentou-se, na plataforma dois, ansiosamente à espera. O ensurdecedor ruído e chiar do comboio a chegar à paragem fez a viúva rejubilar. As portas abriram-se e a multidão em segundos invadiu a estação. Destacava-se, ao fundo o camponês, um homem sem malas, de aparência rude, vestindo apenas trapos gastos. Germaine começa a correr e abraça-o. Sente as mãos ganharem vida própria e a palmilharem-lhe o corpo analisando-o como se de um diagnóstico se tratasse. Percorreu-lhe a cara com os lábios, trémulos, e os seus olhares, penetrantes e vibrantes, pararam na cara um do outro. Tal como o tempo.

Jantavam. Enquanto servia vinho, Gérard levantou-se.Ergueu o seu copo e disse alegremente - Encontrei uma casa. Fica perto da redacção. Não muito longe daqui. É perfeita para mim e para as minhas economias. Chegou a hora de vos dar espaço e conquistar o meu.
E brindaram. Germaine aprontou-se a saudá-lo. Willelm limitou-se a sorrir. Não falara desde o início de refeição. Nem mesmo quando a sua companheira e Gérard partilhavam alegremente as suas quotidianas novidades. Permanecia mudo. Não tinha coragem de corromper aquela melodia. Ouvia, secreta e graciosamente, o tilintar do metal dos talheres na porcelana dos pratos, e o som do vinho a cair e lamber o interior dos copos. Aquela orquestra de conforto e calor estimulavam a sua mais genuína euforia. E o seu silêncio traduzia-se na sua sincera forma de gratidão.

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