segunda-feira, 14 de março de 2011

Germaine II

E hoje levantou-se rápida e energicamente. Era dia de feira. Saira à rua com uma nova vontade, mas escondendo-a habilmente com uma cara entristecida de quem lamentava o marido. E lamentava-o. Percorria a rua à pressa vigiada pelos olhares de pena até chegar à praça central da aldeia, onde os sinos tocavam e brindavam as bancas coloridas que se iam encavalitando por ali, onde as crianças brincavam, as senhoras cumprimentavam e os senhores negociavam. A folia da aldeia era guardada cuidadosamente durante a semana para ser espalhada no sábado em que o mercado ali se instalava. E entre o esgravatar das bancas e tendas, onde Germaine fazia questão de gastar algum tempo de forma a dar mais credibilidade ao seu papel de viúva desgraçada, o seu olhar era subtilmente desviado para o pequeno balcão. De meia dúzia de farripas de madeira que se enchia de cereais e pequenos produtos agrícolas empilhados por ali cima. E o olhar era ansiosamente correspondido. Ali praticavam a telepatia pública enquanto os demais se divertiam nas conversas habituais. Elas sobre as triviais aventuras que viveram, eles sobre as legislações económicas.
Até que o entardecer despedisse os habitantes das ruas e deixasse a praça vaga, reservada apenas a Germaine, ao camponês, e à brisa que enchia o ar e agitava a seara lá ao longe. Onde se sentaram, vendo o sol morrer e a palidez da lua nascer para fugirem. Escondendo-se entre arbustos e pedras que os levavam até à recôndita cabana acompanhados pelo tilintar de chocalhos e o mugir das vacas. Onde voltavam a perder a vergonha que obrigatoriamente simulavam, iluminados pelo pequeno e gasto candeeiro a petróleo e o cheiro a funcho. Abraçados pela natureza que eles ali excitadamente celebravam. Longa e entusiasticamente. Até o galo cantar e o camponês se levantar a caminho da seara que o esperava. Ela deixava-se ficar sempre na cama por mais uns momentos, apreciando a revolta de lençóis criada com a agitada noite e o cheiro do corpo do companheiro impregnado nos velhos panos. Levantava-se depois, jovem, e saía pelo campo para procurar frutos para comer por ali e colher as flores mais vibrantes e virtuosas que encontrava. Que mais tarde deixava junto do defunto marido no seu pequeno ritual; Onde o sorria com saudade...

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