domingo, 5 de dezembro de 2010

Autumn

Dentro do seu chapinhar de galochas, em poças, folhas amarelas e vestígios de lama, sentia o cheiro a Outono que aquecia a pequena brisa gélida. Em frente o típico senhor de avental encardido de negrume, unhas amarelas, cabelo seco e grisalho pintava as mãos a cada página de jornal que ia enrolando e preenchendo com castanhas. E sorria. Via a cidade a viver e a rejubilar a cada segundo acompanhada pelo crepitar das brasas e frutos secos no fogareiro fumegante. Assistia ao desfile de velhinhas em grupos em direcção a cafés, casais apaixonados maravilhados com cada detalhe que surgia, crianças pulando e cantando na sua alegre inocência a caminho da escola, animais entusiasmados com o movimento constante até ao vaguear do pedinte contente com esmola. Também o ar se ia pintando com guarda-chuvas de diferentes tamanhos e cores num ritmo marcado por solas gastas e tacões. E o vendedor de castanhas continuava a sorrir. E ele olhava.

Uma pinga ,fresca, caindo-lhe na nuca fê-lo voltar do transe e abrir os olhos. Sentiu as tábuas frias do banco e as árvores remexendo com o vento largando os restos de gotas de orvalho. Tinha um pombo parado à sua frente mirando-o com compaixão. Atirou-lhe um resto de pão seco que parara de comer submerso no infinito, na fantasia. E ali ficou, estagnado no frio de Outono, vendo o pequeno pombo agradecendo-lhe calorosamente a cada bicada entusiasmada, sentindo-se como o sorridente vendedor de castanhas. Completo.

Sem comentários:

Enviar um comentário