sábado, 25 de dezembro de 2010

Pieces II

Não sabes, claro que não sabes! Ninguém sabe, e tu especialmente ainda menos.
Convido-te a entrar, como habitualmente faço com todos, e a beber um chá. E lá vais tu, dentro do teu “sem destino” e ignorância entrando. Sentas-te no sofá e vais engolindo aquelas porções de água aromatizada absorta em nem sei bem o quê. E o tilintar das xícaras de porcelana vai servindo de banda sonora daquele cenário improvisado que as boas maneiras ditam. Tento vasculhar a cada reacção tua mais qualquer coisa do teu interior enquanto escondo cada vez mais o meu. Apercebo-me que me quero apresentar, enquanto sorvo chá para disfarçar, e não consigo. Limito-me a fingir que estou confortável com a situação. E não estou. Tal como tu. Dizes que o chá é divinal. E que a companhia também. E também o julgo, mas não reajo. Gostaria, mas não consigo. A razão proíbe-me e não deveria.
E por ali ficamos, bebendo chá, fingindo alegria e conforto no meio do caos mais que óbvio até este arrefecer e desaparecer o pretexto para ali estarmos. E cada um ser obrigado a seguir o seu destino. Imposto, estupidamente, em vez de por ali ficarmos, frente a frente, vulneráveis, esperando um passo por mais mínimo que fosse para oficializar a verdadeira razão que nos levou a sentar ali. Mas não o fizemos. E esperámos ansiosamente por mais um pretexto.

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