sábado, 18 de dezembro de 2010

Rot

Viu-a ao longe, pelo reflexo do espelho, encostada a um canto de decadência e podridão a puxar a manga gasta e deslavada. Apertava o braço com um elástico até lhe parar a circulação, quase sem força, e com uma seringa injectava um cocktail qualquer. Cada gota que lhe entrava no organismo sugava-lhe os vestígios de corpo e alma que ainda sobreviviam milagrosamente até acabar por cair.

Chegou ao pé dela, sem cor submersa em convulsões, e procurou por qualquer sinal de vida que ainda pudesse sobreviver. Uma poça ia alastrando e marcando o chão. Quente. Vermelha.
Abortara. E nem se apercebera naquele antro em que a sua vida se tornara que estava grávida. Apenas um corpo morto nos braços dele, e outro desfeito espalhado aos poucos pelo chão…

Ela acordou, acompanhada por máquinas em cima de uma maca velha abandonada em mais um qualquer quarto de hospital, sem força, gasta, presa a um fio frágil de vida. E ele olhava para ela, com olhos vazios enquanto lhe segurava na mão quase fossilizada.

Balbuciou a esforço – Que se passou?

– Nada – respondeu

E beijou-lhe a testa aninhando-se a seu lado.

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